Inquérito ao potencial científico e tecnológico 1995
Portugal, Ministério da Ciência e da Tecnologia
1997
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Os queijos produzidos com leite cru são produtos de elevado valor económico e patrimonial mas que estão sujeitos à ação de microrganismos que comprometem a sua qualidade e a segurança do consumidor. A utilização de revestimentos edíveis antimicrobianos poderá ser uma opção eficaz e sustentável. Pretendeu-se avaliar a aplicação de um revestimento à base de quitosano e óleo essencial de Origanum vulgare subsp. virens, para controlar bactérias e fungos indesejáveis à superfície dos queijos. Foi usado Queijo da Beira Baixa DOP – Tipo Amarelo, não inoculado (NI) e inoculado (I) aos 3 e 16 dias de cura, com agentes de defeitos de cor e de alteração (P. fluorescens, Y.lipolytica, P. commune) e de agentes patogénicos (L. monocytogenes). Cada grupo de queijos (NI e I) foi dividido tendo uma parte sido revestida (R) e a outra não revestida (NR). Durante o período de maturação foram realizados registos fotográficos semanais e, após 45 dias, efetuou-se a contagem (UFC/g) de bolores, leveduras, Listeria, Pseudomonas e Enterobacteriaceae. Observou-se de um modo geral uma menor incidência de manchas escuras nos queijos revestidos, mais notória nos queijos inoculados com 3 dias de maturação. Destaca-se ainda uma redução de Enterobacteriaceae e de Pseudomonas nos queijos revestidos. O revestimento testado mostrou potencial para ser aplicado em queijos, no entanto terá de ser melhorada a sua formulação para a obtenção de um maior espetro de ação antifúngica.
Na Região Centro de Portugal são produzidos três queijos com DOP, Queijo da
Serra da Estrela (QSE), utilizando leite cru de ovelhas das raças autóctones Bordaleira
Serra da Estrela e Churra Mondegueira e Queijos do Rabaçal (QR) e Amarelo da Beira
Baixa (QABB), produzidos com misturas de leites de ovelha e de cabra de diferentes
raças. O Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro pretende
conhecer a composição química e a qualidade microbiológica do leite utilizado na
produção destes queijos. Desde fevereiro de 2019 que estão a ser recolhidas amostras de
leite em 12 explorações indicadas por 5 agrupamentos de produtores. De 15 em 15 dias
são recolhidas amostras nos tanques de refrigeração e transportadas para o CATAA onde
são processadas para determinação da PB, GB, Lactose, SNG, ST e mesófilos. Os valores
de PB (6,2%), GB (7,6%), ST (19,3%) e SNG (11,8%) dos leites de ovelha destinados ao
fabrico do QSE foram superiores (p≤0,05) aos leites destinados ao QR e QABB e os leites
de cabra destinados ao fabrico de QABB tiveram valores de PB (3,8%), GB (5,4%) e ST
(14,3%) mais elevados (p≤0,05) do que os leites destinados ao fabrico de QR. Nas
amostras de leites de ovelha e cabra, os valores médios de lactose e mesófilos foram,
respetivamente, 4,6% e 1698677 UFC/ml e 4,5% e 880856 UFC/ml e 87% das amostras
apresentaram mesófilos abaixo do legislado. Os resultados obtidos sugerem a necessidade
de melhorar a qualidade microbiológica do leite de algumas explorações.
O mel é um alimento natural composto maioritariamente por hidratos de
carbono (sobretudo frutose e glucose) e quantidades menores de proteínas, vitaminas,
ácidos orgânicos e compostos fenólicos. Neste trabalho foi avaliado, para 49 méis da
região de Castelo Branco, o teor de água, teor em hidroximetilfurfural (HMF), índice
diastásico, pH e acidez livre, condutividade elétrica, perfil de açúcares, cor e atividade
antioxidante. Foi efetuada a contagem de fungos no mel, sendo que 42 amostras
apresentaram valores inferiores a 100 UFC/g e apenas uma das amostras apresentou
contagem de 2500 UFC/g, o que é indicador de boas práticas de higiene por parte dos
produtores da região. O teor de água e acidez livre encontram-se dentro dos limites
legislados. Verificou-se que 4 amostras apresentam condutividade elétrica superior a 0,8
mS/cm e três amostras teores de HMF superior a 40 mg/kg. O rácio frutose/glucose varia
entre 1,2 e 1,6 sendo que a trealose apenas foi detetada nos conselhos de Sabugal e Sertã,
levantando a hipótese de que o perfil de açúcares pode ser um parâmetro diferenciador
do mel. Observou-se que os méis mais escuros apresentam menor teor de maltose, e
valores mais elevados de acidez, condutividade elétrica e atividade antioxidante. A
análise em componentes principais revela que apenas os méis provenientes de Sabugal e
Belmonte se diferenciam dos restantes, sendo, no entanto, necessário analisar mais
amostras para validar estes resultados.
Em linha com o estilo de vida saudável, em Portugal, nos últimos anos o
consumo de frutas aumentou. Os consumidores elegem a qualidade como o fator mais
importante na escolha de produtos frescos, sublinhando a sua disponibilidade para pagar
mais por produtos de melhor qualidade. Neste sentido, o setor hortofrutícola avança para
tecnologias expeditas e não destrutivas para a determinação de índices de colheita,
baseadas, por exemplo, em espetroscopia do visível e infravermelho próximo. Numa
primeira fase, são definidos modelos quimiométricos de calibração que incluem
parâmetros não destrutivos e destrutivos (geralmente os de referência). Assim, este
trabalho tem como objetivo a definição de índices que caracterizam a data ótima de
colheita de cereja ‘Prime Giant’. Para o efeito, durante a campanha de 2019, com início
a 21 de maio e término a 11 de junho (nove datas de amostragem), seguiu-se a evolução
de parâmetros referência de qualidade em 135 frutos, designadamente calibre, massa, cor
(L*, a*, b*), firmeza (força a 5% de compressão), sólidos solúveis totais e acidez. Na data
ótima de colheita, definida pelo produtor, esta cereja apresentava calibre de 22 mm, 12 g,
parâmetros de cor com 32,09 (L*), 25,66 (a*) e 7,96 (b*) unidades, firmeza de 5 N,
21,15ºBrix e 0,17 g ácido málico 100 g-1. Posteriormente, serão definidos os modelos
quimiométricos de calibração para determinação de colheita em cereja.
O objetivo deste trabalho foi a caracterização físico-química sumária de oito
cultivares de cereja (Prunus avium) e a sua avaliação hedónica. Na data ótima de colheita,
definida pelo produtor, as cerejas produzidas na Cova da Beira foram objeto de
caracterização físico-química, baseada na determinação da massa, resistência oferecida à
deformação por compressão (0,5 mm), cor, teor de sólidos solúveis e acidez titulável, e
de avaliação hedónica, considerando a Apreciação Global (1-Não gosta; 2-Gosta pouco,
3-Gosta moderadamente, 4-Gosta muito, 5- Gosta extremamente). Os resultados revelam
massas compreendidas entre 9,10 g e 12,58 g, sendo ‘Flofler’, ‘Frisco’ e ‘Prime Giant’
aquelas com maior massa. ‘Prime Giant’ e ‘Summit’ apresentaram os valores mais
elevados das coordenadas de cor (L* a* b*, com valores aproximados de 37, 31 e 13
unidades, respetivamente), indicando que são mais claras e mais vermelhas do que as
restantes. Relativamente à textura, com médias compreendidas entre 1,05 N mm-1 e 2,24
N mm-1, Frisco’, ‘Summit’ e ‘Canada Giant’ apresentaram menor resistência e ‘Satin’,
‘Black Star’ e ‘Prime Giant’ os valores mais elevados. Mais ainda, ‘Grace Star’ destacase
pelo teor de sólidos solúveis mais elevado (22,60%) e ‘Black Star’ pela menor acidez
(7,37 mEq 100 g-1). O painel de consumidores (55 indivíduos) atribuiu pontuações médias
entre 3,51 (‘Satin’) e 3,75 (‘Grace Star’), estatisticamente similares, indicadoras da
aceitação das cultivares em estudo.
Neste trabalho utilizou-se a desidratação com o objetivo de encontrar soluções
para PME frutícolas localizadas no Distrito de Castelo Branco, relativamente ao
escoamento dos excedentes das produções sazonais de prunóideas e ao aproveitamento
de fruta com calibre reduzido e com pouca aceitação no mercado. Foram selecionados
quatro produtos (ameixas, cerejas, nectarinas e pêssegos) que, depois de lavados com
água potável, descaroçados e/ou fatiados, foram colocados num desidratador com 4 m3,
com capacidade para dois carros verticais de 12 tabuleiros com tapetes anti aderentes. O
programa de desidratação foi o seguinte: 60°C; humidade máxima 10%; velocidade 75%;
ciclo de desidratação até 26 horas. A desidratação reduziu o teor em água dos quatro
frutos (83,1% para 7,4%) e aw (0,968 para 0,372). A atividade antioxidante, os polifenóis
totais, o valor energético, o °Brix e a fibra aumentaram, respetivamente, 9,6, 6,1, 4,4, 4,3
e 3,4 vezes. As ameixas desidratadas apresentaram valores mais elevados de acidez e
polifenóis totais (p≤0,05), as cerejas de água, glucose, frutose e aw (p≤0,05), as nectarinas
de proteína, sacarose e fibra (p≤0,05) e os pêssegos de atividade antioxidante, gordura e
hidratos de carbono (p≤0,05). A cereja foi o único fruto que apresentou teores médios de
sódio acima do LQ (0,520 mg/100g). Conclui-se que a tecnologia utilizada apresenta
enorme potencial para conservação (sem aditivos) e consequente valorização de
prunóideas para comercialização fora de época.
Em condições limitantes de disponibilidade hídrica, a figueira-da-índia (Opuntia ficus-indica) é utilizada como forragem alternativa podendo produzir mais de 10 t/MS/ha. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito que três suplementos alimentares (cladódios de figueira-da-índia (OFI), alimento composto comercial (CP) e farinha forrageira de milho (FM)) tiveram sobre o crescimento e o consumo de alimentos e de água de pequenos ruminantes alimentados com feno de consociação (F) como alimento forrageiro base (regime ad libitum controlado). Formularam-se regimes alimentares isoenergéticos. Utilizaram-se 24 borregas Merino Branco organizadas em grupos de 8 animais cada um, homogéneos em relação ao peso vivo e à idade. Cada grupo foi repartido em quatro subgrupos de 2 borregas cada um. O controlo da ingestão alimentar foi feito diariamente para cada um destes subgrupos e o controlo de peso vivo foi semanal e individual. Durante os 63 dias de ensaio, verificou-se que as borregas alimentadas com CP+F apresentaram maior GPD (p≤0,05) e maiores ingestões diárias de água, MS, MS/kgPV0,75, cinzas, NDF, ADF, PB, GB, TDN, EM e H2O (p≤0,05) e menor ingestão de NFC (p≤0,05). No regime alimentar OFI+FM+F verificou-se menor ingestão diária de MS, GB e H2O (p≤0,05). Não se encontraram diferenças entre os regimes FM+F e OFI+FM+F relativamente ao GPD, à ingestão de MS, NDF, ADF, PB, TDN e EM (p>0,05). Considera-se que a baixa concentração proteica dos regimes alimentares OFI+FM+F (85,54 gPB/kgMS) e FM+F (84,76 gPB/kgMS) (p>0,05) terá afetado o crescimento das borregas relativamente aos animais alimentados com CP+F (148,62 gPB/kgMS).
O azevém anual (Lolium multiflorum L.) é uma das forragens mais utilizadas na alimentação de ruminantes. Pode ser fornecida em pastoreio direto, feno, feno-silagem, silagem ou em regimes mistos com pastoreio e conservação. Contribui para reduzir os custos com a alimentação da vaca leiteira e tem influência favorável sobre a quantidade de CLA, C18:2 e C18:3 do leite. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de um fertilizante de digestato de chorume de bovinos na produção e na composição nutricional de forragem de azevém anual tetraploide. O digestato foi obtido numa unidade de produção de biogás. Os tratamentos foram: fertilização mineral (35 kg N ha-1 em fundo e 55 kg N ha-1 em cobertura); digestato (90 kg N ha-1 em fundo). O fertilizante mineral permitiu obter 2,5 vezes mais forragem (kg MS/ha). A utilização do digestato na fertilização da cultura permitiu obter forragem com valores mais elevados de TDN, EM, cinzas e NFC (p≤0,05) e valores mais baixos de MS, PB, NDF, ADF e celulose (p≤0,05). No entanto, nenhum dos fertilizantes utilizados influenciou os teores de GB, hemicelulose e ADL da forragem de azevém (p>0,05). Conclui-se que os dois fertilizantes podem ser utilizados na produção de azevém, embora a utilização de digestato tenha permitido obter uma forragem de gramínea com melhor valor nutricional para a alimentação de ruminantes.